terça-feira, 14 de agosto de 2012

Estudando o Evangelho

Cap. 18 - Muitos São os Chamados e poucos os escolhidos.

A Porta Estreita

3 – Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ela. Que estreita é a porta, e que apertado o caminho que leva para a vida, e quão poucos são os que acertam com ela! (Mateus, VII: 13-14).

4 – E perguntou-lhe alguém: Senhor, são poucos, então, os que se salvam? E ele lhes disse: Porfiai por entrar pela porta estreita, porque vos digo que muitos procurarão entrar e não o poderão. E quando o pai de família tiver entrado, e fechado à porta, vós estareis de fora, e começareis a bater à porta, dizendo: Abre-nos, Senhor! E ele vos responderá, dizendo: Não sei de onde sois. Então começareis a dizer: Nós somos aqueles que, em tua presença, comemos e bebemos, a quem ensinaste nas nossas praças. E ele vos responderá: Não sei de onde sois; apartai-vos de mim todos os que obrais a iniqüidade. Ali será o choro e o ranger de dentes, quando virdes que Abrão, e Isaac e Jacó, e todos os profetas, estão no Reino de Deus, e que vós ficais fora dele, excluídos. E virão do oriente e do ocidente, e do setentrião e do meio-dia, muitos que se assentarão à mesa do Reino de Deus. E então os que são últimos serão os primeiros,e os que são os primeiros serão os últimos. (Lucas, XII: 23-30).

5 – A porta da perdição é larga, porque as más paixões são numerosas e o caminho do mal é o mais freqüentado. A da salvação é estreita porque o homem que deseja transpô-la deve fazer grandes esforços para vencer as suas más tendências, e poucos se resignam a isso. Completa-se a máxima: São muitos os chamados e poucos os escolhidos.

Esse é o estado atual da humanidade terrena, porque, sendo a Terra um mundo de expiações, nela predomina o mal. Quando estiver transformada, o caminho do bem será o mais freqüentado. Devemos entender essas palavras, portanto, em sentido relativo e não absoluto. Se esse tivesse de ser o estado normal da humanidade, Deus teria voluntariamente condenado à perdição a imensa maioria das criaturas, suposição inadmissível, desde que se reconheça que Deus é todo justiça e todo bondade.

Mas quais as faltas de que esta humanidade seria culpada, para merecer uma sorte tão triste, no presente e no futuro, se toda ela estivesse na Terra e a alma não tivesse outras experiências? Por que tantos escolhos semeados no seu caminho? Por que essa porta tão estreita,que apenas a um pequeno número é dado transpor, se a sorte da alma está definitivamente fixada, após a morte? É assim que, com a unicidade da existência, estamos incessantemente em contradição com nós mesmos e com a justiça de Deus. Com a anterioridade da alma e a pluralidade dos mundos, o horizonte se alarga, iluminam se os pontos mais obscuros da fé, o presente e o futuro se mostram solidários com o passado, e somente assim podemos compreender toda a profundidade, toda a verdade e toda a sabedoria das máximas do Cristo.


Os Que Dizem “Senhor, Senhor!”

6 – Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim o que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus, esse entrará no Reino dos Céus. Muitos me dirão, naquele dia: Senhor, Senhor, não é assim que profetizamos em teu nome, e em teu nome expelimos os demônios, e em teu nome obramos muitos prodígios? E eu então lhes direi, em voz bem inteligível: Pois eu nunca vos conheci; apartai-vos de mim, os que obrais a iniqüidade. (Mateus, VII: 21-23).

7 – Todo aquele, pois,que ouve estas minhas palavras, e as observa, será comparado ao homem sábio, que edificou a sua casa sobre a rocha. E veio a chuva, e transbordaram os rios, e assopraram os ventos, e combateram aquela casa, e ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. E todo o que ouve estas minhas palavras, e não as observa, será comparado ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. E veio a chuva, e transbordaram os rios, e assopraram os ventos, e combateram aquela casa, e ela caiu, e foi grande a sua ruína. (Mateus, VII: 24-27 e semelhante em Lucas, VI: 46-49).

8 – Aquele, pois, que quebrar um destes mínimos mandamentos, e que assim ensinar aos homens, será chamado mui pequeno no Reino dos Céus; mas o que os guardar, e ensinar a guardá-los, esse será reputado grande no Reino dos Céus. (Mateus, V: 19).

9 – Todos os que confessam a missão de Jesus, dizem: Senhor, Senhor! Mas de que vale chamá-lo Mestre ou Senhor, quando não se seguem os seus preceitos? São cristãos esses que o honram através de atos exteriores de devoção, e ao mesmo tempo sacrificam no altar do egoísmo, do orgulho, da cupidez e de todas as suas paixões? São seus discípulos esses que passam os dias a rezar, e não se tornam melhores, nem mais caridosos, nem mais indulgentes para com os seus semelhantes? Não, porque, à semelhança dos fariseus, têm a prece nos lábios e não no coração. Servindo-se apenas das formas, podem impor-se aos homens, mas não a Deus. É em vão que dirão a Jesus: “Senhor, nós profetizamos, ou seja, ensinamos em vosso nome; expulsamos os demônios em vosso nome; comemos e bebemos convosco!” Ele lhes responderá: “Não sei quem sois. Retirai-vos de mim, vós que cometeis iniqüidade, que desmentis as vossas palavras pelas ações, que caluniais o próximo, que espoliais as viúvas e cometeis adultério! Retirai-vos de mim, vós, cujo coração destila ódio e fel, vós que derramais o sangue de vossos irmãos em meu nome, que fazeis correrem as lágrimas em vez de secá-las! Para vós, haverá choro e ranger de dentes, pois o Reino de Deus é para os que são mansos, humildes e caridosos. Não espereis dobrar a justiça do Senhor pela multiplicidade de vossas palavras e de vossas genuflexões. A única via que está aberta, para alcançardes a graça em sua presença, é a da prática sincera da lei do amor e da caridade.”

As palavras de Jesus são eternas, porque são as verdades. Não são somente as salvaguardas da vida celeste, mas também o penhor da paz, da tranqüilidade e da estabilidade do homem entre as coisas da vida terrena. Eis porque todas as instruções humanas, políticas, sociais e religiosas, que se apoiarem nas suas palavras, serão estáveis como a casa construída sobre a pedra. Os homens as conservarão, porque nelas encontrarão a sua felicidade. Mas aquelas que se apoiarem na sua violação, serão como a casa construída sobre a areia: o vento das revoluções e o rio do progresso as levarão de roldão.


I – Ao Que Tem Se Lhe Dará

UM ESPÍRITO AMIGO

Bordeaux, 1862

13 – E chegando-se a ele os discípulos, lhe disseram: Por que razão lhes falas por parábolas? Ele, respondendo, lhes disse: Porque a vós vos é dado saber os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é concedido. Porque ao que tem, se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não tem, até o que tem, lhe será tirado. Por isto é que eu lhes falo em parábolas; porque eles, vendo, não vêem, e ouvindo não ouvem, nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Vós ouvireis com os ouvidos, e não entendereis; e vereis com os olhos, e não vereis. (Mateus, XIII: 10-14).

14 – Também lhes dizia: Atendei ao que ides agora ouvir. Com a medida com que medirdes aos demais, vos medirão a vós, e ainda se vos acrescentará. Porque ao que já tem, dar-se-lhe-á, e ao que não tem ainda o que tem se lhe tirará. (Marcos, IV: 24-25)

15 – “Dá-se ao que tem e retira-se ao que não tem”. Meditai sobre esses grandes ensinamentos, que quase sempre vos pareceram paradoxais. Aquele que recebeu é o que possui o sentido da palavra divina. Ele a recebeu porque se esforçou para fazer-se digno, e porque o Senhor, no seu amor misericordioso, encoraja-lhe os esforços em direção ao bem. Esses esforços contínuos, perseverantes, atraem as graças do Senhor. São como um ímã, que atraísse as melhoras progressivas, as graças abundantes, que vos tornam fortes para a subida da montanha sagrada, em cujo cume encontrareis o repouso que sucede ao trabalho.

“Tira-se àquele que nada tem, ou que tem pouco”. Tomai isto como um ensino figurado. Deus não tira das suas criaturas o bem que se dignou conceder-lhes. Homens cegos e surdos! Abri vossas inteligências e vossos corações, procurai ver pelo espírito; compreendei com a alma; e não interpreteis de maneira grosseiramente injusta as palavras daquele que fez resplandecer aos vossos olhos a Justiça do Senhor! Não é Deus quem retira daquele que pouco havia recebido, mas é o seu próprio Espírito que, pródigo e descuidado, não sabe conservar o que tem, e aumentar, fecundando-a, a migalha que caiu no seu coração.



O filho que não cultiva o campo que o trabalho do pai conquistou, para deixar-lhe de herança, vê esse campo cobrir-se de ervas daninhas. Será o seu pai quem lhe tira as colheitas que ele não preparou? Se ele deixou a sementeira morrer nesse campo, por falta de cuidado, deve acusar seu pai pela falta de produção? Não, não! Em vez de acusar aquele que tudo lhe deu, como se lhe houvesse retomado os bens, deve acusar-se a si mesmo, que é o verdadeiro responsável pela sua miséria, e arrependido e ativo, entregar-se corajosamente ao trabalho. Que arroteie o solo ingrato, com o esforço de sua própria vontade; que o lavre a fundo, com a ajuda do arrependimento e da esperança; que nele atire, confiante, a semente que escolheu como boa entre as más; que o regue com o seu amor e a sua caridade; e Deus, o Deus de Amor e Caridade, dará aquele que já tem. Então,ele verá os seus esforços coroados de sucesso, e um grão a produzir cem, e outro, mil. Coragem, trabalhadores! Tomai as vossas grades e charruas; arrotei os vossos corações; arrancai deles o joio; semeai a boa semente que o Senhor vos confia, e o orvalho do amor os fará produzir os frutos da caridade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário