terça-feira, 29 de maio de 2012

Allan Kardec

O CASULO E A BORBOLETA: Em 1958, o espírito André Luiz explicou o processo do morrer (19), comparando-o à metamorfose dos insetos . Imaginemos a larva dos insetos de transformação completa, como a da borboleta, por exemplo. Chega um determinado momento em que a lagarta começa a diminuir os seus movimentos, até paralisá-los completamente; esvazia, então, os intestinos e não mais suporta a alimentação. Nesse estágio, permanece imóvel, transformando-se em crisálida ou pupa. Fica, então, dentro do casulo, protegida das intempéries pelos fios que produz com a secreção das glândulas salivares, e pelos tecidos vegetais e pequenos gravetos do meio ambiente. Nesse estado, pode ficar alguns dias e até meses. Na posição de pupa, o organismo da lagarta sofre modificações consideráveis com o aniquilamento de determinados tecidos (histólise), ao mesmo tempo que elabora órgãos novos (histogênese). Principalmente, o aparelho digestivo e os músculos sofrem as alterações de cunho degenerativo, reconstruindo-se, depois, em novas bases. Nessa reconstrução (histogênese), forma-se um novo sistema bucal e os elementos dos músculos estriados são reutilizados, já agora para a configuração de outros órgãos. Assim, um belo dia, uma linda borboleta deixa o casulo. Ao deixar o corpo físico, a alma humana passa por um processo semelhante. É discutível se será uma bela borboleta ou uma mariposa escura e sem graça, mas de todo modo vai se apresentar com um envoltório diferente. Somente após o esgotamento da força vital, em virtude da idade avançada, da enfermidade ou de algum outro fator destrutivo externo, pouco a pouco, declinam as forças fisiológicas, paralisam-se os movimentos corpóreos. O paciente em estado terminal não mais tolera a alimentação. A imobilização no cadáver lembra a crisálida. Assim como a lagarta produz os filamentos com que se enovela no casulo, também o homem envolve-se nos fios dos próprios pensamentos. Nesse estado, há o predomínio das forças mentais, tecido com as próprias idéias reflexas dominantes do Espírito. Este pode ficar nesse estado de pupa por um período que varia entre minutos, horas, dias, meses ou decênios. Com a cadaverização, os catalizadores químicos e outros recursos próprios do quimismo orgânico operam a destruição dos tecidos corpóreos (histólise). Com isso, afetam os tecidos do corpo espiritual, principalmente a morfologia dos músculos e dos aparelhos da nutrição, com escassa influência sobre os sistemas nervoso e circulatório. Ao mesmo tempo, dá-se a reconstrução (histogênese) do corpo espiritual, com a elaboração de órgãos novos. Assim, o perispírito ou corpo espiritual inicia a formação dos seus "tecidos" a partir dos elementos vivos, desagregados do tecido citoplasmático que se mantinham, até então, ligados à organização fisiológica entregue à decomposição. Pela histogênese espiritual, os órgãos novos vão recompor o perispírito, para que ele possa continuar servindo de veículo à atuação do Espírito, já agora em nova dimensão. Somente ao término desse processo, a borboleta abandona o casulo, isto é, o Espírito larga o corpo físico, ao qual se uniu, temporariamente, e que lhe serviu de sagrado instrumento de aprendizado. Enverga, então, um veículo mais sutil, com novo peso específico, segundo a densidade da vida mental em que se gradua, dispondo de novos elementos para atender à própria alimentação e locomoção. Tal como o organismo da borboleta, esse corpo sutil passou por modificações no sistema muscular e no aparelho bucal. Assim, vai ostentar as chamadas trompas fluídico-magnéticas de sucção, novo meio através do qual vai se alimentar no além. Com esses órgãos novos, esse corpo estará muito mais ligado às emanações das coisas e dos seres que o cercam. É sempre bom repetir que todo esse processo vai depender da evolução espiritual do desencarnado. O grau evolutivo alcançado vai se refletir nos processos mentais que, por sua vez, vão conferir "peso específico" ao psicossoma ou perispírito. Em última análise, esse "peso específico" é quem vai determinar a morada ou a dimensão em que o Espírito viverá no além. Desde que iniciou seus Seminários sobre a Morte e o Morrer, em 1965, a dra. Elisabeth Kübler-Ross tem aprendido muito com os que estão se despedindo deste mundo. Em seus livros e conferências, a grande mensageira da Esperança, legítima representante da psiquiatria iluminada, tem utilizado bastante as mesmas imagens veiculadas por André Luiz: a lagarta, o casulo e a borboleta.(20) Nas suas observações no leito de morte, a dra. Ross constatou essa posição de pupa referida por André Luiz: o doente não deseja mais conversar, pára de se alimentar, enfrentando os pródromos da passagem. Nesse estágio, a dra. Ross conservava-se, silenciosamente, ao lado do agonizante, mantendo a posição de companheirismo e solidariedade. Muitos clarividentes têm descrito o que se passa no momento da morte, em observações que puderam fazer assistindo a moribundos; essas informações coincidem com as descritas nos livros da coleção André Luiz. LIBERAÇÃO GRADATIVA: Em Obreiros da Vida Eterna,(20) aprendemos que existem três regiões orgânicas fundamentais a merecer todo cuidado nos momentos de liberação da alma: 1) O centro vegetativo ( sede das manifestações fisiológicas), ligado ao ventre; 2) O centro emocional (zona dos sentimentos e desejos), sediado no tórax; 3) O centro mental: sede da alma (o mais importante), situado no cérebro. Após a liberação desses três centros, dá-se a morte , mas não a desencarnação, porque, em geral, por um período que varia de 50 a 72 horas, permanece um liame fluídico, o chamado cordão de prata, ligando o cérebro do perispírito ao cérebro do corpo físico. Através desse cordão prateado, o Espírito absorve os últimos remanescentes dos princípios vitais que ainda circulam no campo fisiológico. RECAPITULAÇÃO: As informações do mundo espiritual referem-se ao fenômeno da recapitulação ou hipermnésia post-mortem, através do qual o Espírito tem uma visão panorâmica de toda a existência que acabou de deixar. Trata-se de um filme único, que contem milhares de cenas, com todos os detalhes minuciosos da existência finda e que cada ser revive, no silêncio de sua posição de crisálida, como uma espécie de balanço ou de julgamento de sua própria consciência. Mesmo alguns daqueles que voltaram a viver, após uma EQM, contam que passaram por essa recapitulação. Já citamos o caso do psiquiatra George Ritchie, no livro Voltar do Amanhã, relatando uma EQM, aos 22 anos, quando foi considerado clinicamente morto por nove minutos (21) : "Tudo o que se passara comigo ali estava, visível a olho nu, situado no tempo e animado de vida, parecendo acontecer no mesmo instante. (...) Cada pormenor de vinte anos de existência estava ali para ser visto. (...) no meio dessa visão de tudo o que ocorrera, surgiu uma questão. (...) "Que fez você de sua vida?" (...) A pergunta parecia dizer respeito a valores, não a fatos: "O que você realizou com as cotas de tempo que lhe foram dispensadas?" Nas 500 cartas-mensagens, enviadas pelos desencarnados aos seus familiares, por intermédio de Chico Xavier, que tivemos a oportunidade de analisar no livro Nossa Vida no Além, há também relatos de hipermnésia ou recapitulação. Foi o que descreveu Luiz Antonio Biazzio, residente do Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, que teve morte súbita, aos 29 anos, em carta-mensagem, enviada à sua mãe, Leda, quando ela visitou o médium Xavier, em Uberaba (22): "Rememorei meus estudos de medicina, revisei os meus doentes, os meus apuros na psiquiatria para definir-lhes as emoções e, em seguida, querida mãezinha, as recordações da infância e do lar desfilaram diante da minha visão íntima. "De tudo me lembrei (...) De seus sacrifícios e dos sacrifícios do papai Caetano para que eu pudesse cumprir o meu ideal num curso superior; revi a querida irmãzinha Maria Clara, a perguntar-me sobre o que eu preferia para essa ou aquela merenda, e não me esqueci de nossas preces do tempo de criança.(.. ) tudo, tudo estava ali comigo naqueles instantes (...)" Essa recapitulação faz parte do "morrer" ou do "programa" natural da desencarnação e é conhecida nos círculos espirituais como síntese mental. SONO ARRASADOR: As 500 mensagens pesquisadas confirmam as questões 163 a 165 de O Livro dos Espíritos , que nos instruem sobre o estado de perturbação pelo qual a alma passa, após a morte, em tempo variável, conforme a elevação de cada um. Este estado de torpor manifesta-se no sono profundo, irresistível, arrasador, a que se entrega o Espírito, no momento da morte, podendo permanecer nele por horas, dias, meses e anos. Vejamos um pequeno trecho da mensagem de Carlos Alberto Andrade Santoro, jovem de 20 anos, residente na cidade paulista de Votuporanga, falecido de acidente de avião, enviada em 11/3/1977: Chorei, dentro de uma imobilidade que eu não saberia descrever, e, em seguida, notei que mãos de enfermagem me anestesiavam. Era o sono, o sono da bênção, porque, entre a morte do corpo e o renascimento na Vida Espiritual, Deus colocou um desmaio providencial. Quando acordei, me vi sem qualquer ligação com nosso amigo Denizard ( falecido também no desastre) e com a nossa gente amiga de Votuporanga (23) CORDÃO DE PRATA: Fazendo uma correlação entre o estudo da metamorfose da alma, de crisálida a borboleta, e o desligamento dos três centros de força mais importantes, concluímos que a manutenção do cordão de prata está diretamente relacionada ao processo de histogênese espiritual. O perispírito que serviu de intermediário ao espírito para modelar o organismo biológico e atuar sobre ele, tem, agora, de passar, por modificações estruturais, especialmente no sistema digestório (aparelho digestivo) e nos músculos, para servir-lhe de veículo na vida do além. (24) O Benfeitor Espiritual Emmanuel afirma que a grande maioria das criaturas humanas necessita de 50 a 72 horas para que haja o desligamento do cordão prateado. (25) O sono, a revisão panorâmica e o cordão de prata estão diretamente implicados nessas modificações, ou seja, na construção dos órgãos novos do perispírito; a duração dessas etapas obedecerá sempre ao estado mental ou ao patrimônio espiritual alcançado pelo desencarnado. Aprendemos que esse processo transformador do corpo sutil não termina, necessariamente, aí, no limiar da vida nova, mas prossegue ao longo da vida espiritual. Enquanto esses órgãos novos do corpo espiritual não estiverem concluídos, pelo menos na sua tecitura básica, a alma permanece em estado de pupa ou crisálida, incapaz de sair do próprio casulo. FÉ TRANSFORMADORA: Aí está sumarizado o processo do morrer. São vários estágios a percorrer, que podem ocorrer simultaneamente e cujas dimensões, no tempo, variam ao infinito, em decorrência da grande heterogeneidade evolutiva, característica do nosso planeta. Cremos que é preciso aprofundar o estudo do transe, ou dos estados alterados de consciência, uma vez que a morte física representaria, por assim dizer, o clímax desse processo. Basta lembrarmos o estado cataléptico e a sua simulação da morte para compreendermos a relação com esses desacoplamentos progressivos do Espírito. Neste final de milênio, três quartas partes dos terráqueos continuam negando a morte e, infelizmente, cultuando a matéria como gozadores contumazes. Temos necessidade imperiosa de escolas que ensinem as criaturas a morrer, mas que possuam janelas escancaradas para o infinito, apontando para a perenidade da vida espiritual e a necessidade de vivência do amor ao próximo. A dra. Kübler-Ross tem chamado a atenção sobre esse aspecto. Ela observou, em seus Seminários, que algumas pessoas que cultivavam religiões tradicionais, diferiam pouco das outras não religiosas, quanto à aceitação da morte. Segundo o que observou, a variável importante não é o "quê" se acredita, mas sim o "quanto" se acredita essencial e genuinamente. Constatou que as pessoas que acreditam na reencarnação, ou que descendem de culturas e religiões orientais, geralmente, aceitam a morte com mais paz e serenidade , mesmo na juventude, enquanto que muitos dos pacientes cristãos sentem dificuldade de aceitar a morte. (26) Ter uma religião, portanto, por si só não basta. Antes de tudo, é preciso que a pessoa tenha uma fé transformadora. E só a vivência do amor aos semelhantes consegue esse estágio superior de consciência, no qual o título religioso é o que menos importa. 15) Obreiros da Vida Eterna - cap. XI, p. 172. 16)Ver O Livro dos Espíritos - todo o cap. III. 17)O Céu e O Inferno - cap. I da segunda parte. 18) Evolução em Dois Mundos - cap. XI. 19) A Morte: Um Amanhecer - pp.11 e 12 20) Ver Obreiros da Vida Eterna, cap. XI e XV 21) Voltar do Amanhã, pp. 45 a 48 22) Vozes da Outra Margem, p.47 23) Ver A Vida Triunfa, caso 14; Viajores da Luz, 1ª carta-mensagem, p.17 24) Quanto à função do cordão de prata, veja Obreiros da Vida Eterna, cap. XV 25) Ver os livros O Consolador e Caminhos de Volta 26) Perguntas e Respostas sobre a Morte e o Morrer, p. 167

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