terça-feira, 22 de maio de 2012

Exercitando Liberdades: Liberdade Fundamental e Liberdade Eletiva

A libertada esta para o ser humano assim como a semente esta para a arvore. E potência. E vocação, mas e também luta e empenho. Quando falamos dessa liberdade que já esta no ser humano, mas que precisa ser conquistada, estamos nos referindo a uma liberdade fundamental, que também pode ser chamada faculdade entintaria, isto e, uma condição irrenunciável, um estatuto que nos identifica e nos diferencia. Essa liberdade fundamental e elemento constitutivo do ser humano. Esta na semente, na essência que se desenvolvera ao longo da vida. Por outro lado, temos a liberdade circunstancial, categorial. Essa experiência de liberdade se da nas circunstancias da existência. A vida humana e exercício constante do que chamamos de liberdade eletiva, isto e, liberdade que nos ajuda a fazer escolhas. E a resposta que damos a nos mesmos e aos outros, diante das inúmeras interpelações e alternativas. Essa liberdade e relativa, porque sofre variações. O inegável e que a moldura da vida e composta dessas pequenas escolhas. Liberdade eletiva e liberdade de toda hora. Sao as respostas para as perguntas mais simples. Aonde vou? Que roupa usarei?... Liberdade entintaria e mais profunda. Sao as respostas para as perguntas mais fundamentais. O que tenho feito da minha vida? Porque tenho medo? Quem me roubou de mim? Questões mais elaboradas e que deveriam passar o tempo todo pela nossa reflexão. O interessante e perceber que essas duas formas de liberdade estão naturalmente entrelaçadas. A liberdade mais profunda e construída o tempo todo no exercício das pequenas escolhas. Aqui esta a chave que vale a pena levarmos conosco. Ela nos abrira muitas portas. Quando fico atento as escolhas mais simples, aquelas que a todo momento eu realizo na minha história, de alguma forma já posso saber se estou aprisionado ou se estou libertando a minha liberdade fundamental. Se nas circunstancias da existência faço escolhas que confirmam a minha liberdade fundamental, estou livre de fato. Estou regando bem a minha semente, para que ela se transforme na arvore que traz dentro de si. Mas se nas circunstancias da minha vida faço escolhas que me aprisionam, estou deixando de fazer aflorar o meu fundamento. A liberdade fundamental depende das liberdades categoriais. O exemplo e simples e pode nos fazer entender. Temos uma escultura preciosa, rica de detalhes, mas que esta muito empoeirada. Cada pedaço dessa escultura submetido a um processo de limpeza revelara a beleza que a poeira insiste em esconder. Se, em vez de limpar, optarmos por expor a escultura a novas nuvens de poeira, os detalhes da beleza ficarão ainda mais ocultos. A liberdade fundamental e uma escultura belíssima que todos nos trazemos cravada no mais profundo de nossa condição humana. A liberdade circunstancial, categorial, e a oportunidade que temos de traze-lá a tona, ou nao. A experiência humana nos ensina que o amor condensa o poder de fazer o outro ser livre. E disso que estamos falando. Amar concretamente alguém consiste em viver a responsabilidade, a proeza de ter que retirar os excessos que ocultam suas belezas. Amar e assumir a responsabilidade fundamental que há no outro. Todo gesto humano, por menor que seja, pode se tornar significativo no processo de conquista e alcance dessa liberdade fundamental... Nosso jeito de viver pode promover, ou nao, a liberdade fundamental daqueles que fazem parte de nosso horizonte de sentido. Se nos dizemos que amamos, então precisamos ser instrumentos de libertação na vida dos que dizemos amar. O que da testemunho de nosso amor nao e a declaração que a linguagem das palavras nos permite, mas e a linguagem dos gestos que concretizamos diariamente. Só o amor faz ser livre, porque ele quebra os cativeiros que nos aprisionam. Ele tem o dom de devolver a liberdade, e por isso nao há experiência de amor fora da liberdade. Ninguém pode ser amado e ao mesmo tempo ser mantido cruelmente na prisão. Nao podemos acreditar no amor de quem nos aprisiona e nos mantém em cativeiro. O amor verdadeiro e o amor que faz ser livre, que faz ir além, porque nao ama para reter, mas para promover. Amor e liberdade sao duas vigas de sustentação para qualquer relacao que pretenda ser respeitosa. Se Deus nos fez livres, o amor de quem nos encontra pela vida nao pode ser contraditório ao amor que nos originou... Se quiser nos amar, se quiser fazer parte de nossa vida, terá que ter diante dos olhos o que somos, o que ainda podemos ser, e nao o que ele gostaria que fossemos... Estamos em processo de feitura, e Deus nos devolve a nos mesmos o tempo todo. Ele nos devolve pelas mãos históricas de quem nos encontra, de quem nos ama. E o amor humano de Deus, manifestado em minha vida pela forca de pessoas concretas, cheias de voz e de gestos. Essas sao as pessoas que nos ajudam a conquistar o que nao sabíamos possuir. Elas nos mostrava o avesso de nossa realidade, porque o amor e uma espécie de lente que amplia nossa autopercepcao. O olhar de quem nos ama e uma olhar que nos devolve, abre portas. Por outro lado, se nao somos amados, corremos o risco de sermos roubados de nos. Corremos o risco de nos tornar vitimas nas mãos dos outros e de sermos fechados nas estruturas minúsculas de um cativeiro... Uma coisa e certa: quanto maior e o bem que nos provocam, maior e o desejo que temos de ficar por perto. O desejo sobrevive assim. O outro nos apresenta um jeito novo de interpretar o que somos, e por essa nova visão nos apaixonamos. O que nos encanta no outro e o que ele nos conseguiu fazer enxergar em nos mesmos. Egoísmo? Nao. Apenas o primeiro pilar do conceito de pessoa alcançando uma profundidade ainda maior dentro de nos. (Padre Fábio de Melo, em Quem me roubou de mim?)

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